Silêncio do piano “avisou” a vizinhos que professor talentoso partiu

Todas as tardes, o professor Tiago Bianchi tocava piano na sacada de seu apartamento

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Professor Tiago Bianchi Silva Araújo morreu aos 42 anos. (Foto: Reprodução Facebook)

Do outro lado da linha, a professora de música Valéria Bianchi pede desculpas. As palavras ainda falam do irmão no presente. Usar o passado é um dissabor para quem sempre viu de perto o talento do professor Tiago Bianchi Silva Araújo na música e na pintura.

Na tarde de segunda-feira, 20 de março, Tiago chegou em casa e tocou pela última vez o piano de cauda comprado há dois anos. E foi o som do instrumento, na verdade a ausência dele, que avisou a vizinhança que o professor havia partido.

Segundo a irmã, que guarda relatos de uma das vizinhas, Tiago tocava piano todas as tardes. O som, pelo visto, cativava os moradores que nunca reclamaram do barulho.

“Uma vizinha relatou que ele chegou na segunda, por volta das 15h30, e tocou intensamente o piano por horas. Tocou forte. Tocou de um jeito que todo mundo ouvia', conta Valéria, a irmã mais velha.

O som não ecoou mais pelas janelas naquele fim de tarde e nem no dia seguinte. Tiago também não atendeu aos telefonemas da família e dos amigos. Na manhã de terça-feira (21), o professor de Artes foi encontrado morto em seu apartamento. A suspeita, de acordo com a polícia, é de suicídio.

Tiago era o caçula de três irmãos nascidos em Ivinhema, a 282 quilômetros de Campo Grande. Aos 6 anos, olhava a irmã Valéria aprendendo a dançar com os dedos no tecladinho comprado pelo pai.

Não demorou muito para também mostrar seu talento com as artes. Cresceu desenhando, pintando e se dedicando à música na igreja Adventista.

O amor pelas artes o levou para a sala de aula, lecionou durante anos para alunos de escola pública. Tinha paixão pela pintura e pela música. Mas foi o diagnóstico de depressão que o afastou da sala de aula nos últimos anos.

“Fazia mais de um ano que estava em tratamento da depressão, estava afastado e fazendo acompanhamento com psiquiatra, ele não tinha condições de dar aula. Ele já tinha conversado com várias pessoas, estava vivendo com essa dor, mas, infelizmente, o professor nunca é defendido', lamenta a irmã.

Valéria alega que a falta de empatia foi um dos fatores que levaram o irmão a perder o gosto pela vida. Sem condições emocionais de voltar às salas de aula, ele foi reprovado na perícia médica e obrigado a voltar a trabalhar.

A irmã destaca que Tiago tinha amor pela profissão, mas precisava de afastamento para tratamento médico e readaptação adequada. Ele já tinha passado por perícia mais de uma vez no IMPCG (Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande), mas, na última segunda-feira (20), foi reprovado mais uma vez. “Infelizmente, ele não suportou toda essa pressão', diz a irmã.

Na casa do professor ainda estão os quadros e o piano preferido. O som não deve sair mais pela janela, não do apartamento. Isso porque o instrumento deve ficar com Valéria, que é professora de música e pretende guardá-lo com carinho para que o filho possa herdá-lo. “Me disseram que um dos desejos dele era que o piano ficasse com o Davi, meu filho'.

Além do instrumento, a irmã guarda no peito o sorriso e o talento de Tiago. 'Era uma pessoa excepcional, inclusive para a arte, para a música, para tudo o que é belo. Ele sempre teve um olhar muito especial para tudo isso. São essas lembranças que quero guardar pra sempre', finaliza a irmã.

Com informações e imagem do Campo Grande News

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