Perto da fonte, estudantes de Medicina no Paraguai são cooptados pelo tráfico

Cooptação de alunos para transporte de drogas preocupa polícias

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Em outubro passado, estudante foi pego com drogas em fundo falso de caminhonete. Imagem: (Adilson Domingos)

O envolvimento com o tráfico de drogas de estudantes brasileiros de Medicina das universidades de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, preocupa as polícias em Mato Grosso do Sul. Na avaliação das forças de segurança, a proximidade com a “fonte” dos ilícitos facilita a cooptação destes alunos para o crime.

O governo do departamento de Amambay estima em 15 mil o número de estudantes matriculados nos cursos de Medicina das universidades de Pedro Juan Caballero, vizinha da sul-mato-grossense Ponta Porã.

As mensalidades vão até R$ 790,00 em instituições de ensino paraguaias, taxa dez vezes menor que a média praticada pelas faculdades privadas do Brasil, de R$ 8 mil, segundo Mapa do Ensino Superior 2019, elaborado pelo Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior). Em Mato Grosso do Sul, o valor supera os R$ 13 mil.

A Polícia Federal aponta que, em regra, a droga traficada por estudantes brasileiros é fornecida no Paraguai.

Investigações da força de segurança ainda não identificaram atuação sistêmica de grupos organizados para aliciar alunos para o tráfico.

Porém, a facilidade de acesso transforma universidades paraguaias em esconderijos de criminosos, como traficantes. Assim, a roupagem de estudante é usada como disfarce.

A Polícia Federal revela que já fez prisões de foragidos da Justiça dentro de instituições paraguaias de Ensino Superior.

Perfil

Com atuação efetiva em 730,8 quilômetros em região de fronteira seca do Estado, o DOF (Departamento de Operações de Fronteira) indica que traficantes vendem a estudantes “uma falsa ideia que, ao passarem por uma barreira do DOF, não seriam abordados, ou se fossem parados passariam por uma abordagem mais administrativa”.

Segundo o departamento, a maconha é a mais traficada neste tipo de crime, “devido à facilidade de acesso no Paraguai”. O DOF lembra que também houve casos de apreensões de drogas sintéticas e anabolizantes.

Em março do ano passado, o DOF prendeu estudante de Medicina com 3,6 quilos de supermaconha - também chamada de skunk - em ônibus, na BR-463, em Ponta Porã.

Já em outubro de 2019, policiais militares rodoviários flagraram aluno de Medicina no Paraguai com 228 quilos de maconha e um quilo de pasta-base de cocaína em fundo falso de uma Ford F-1000, na MS-162, em Dourados.

Polícia Civil

Na avaliação do titular da Delegacia Regional de Polícia de Ponta Porã, Clemir Vieira Júnior, assédio e oportunidade de entrar para o tráfico de drogas são maiores na faixa de fronteira.

Segundo o delegado, a Polícia Civil atua subsidiariamente nas ações de combate ao comércio ilegal de drogas na região.

Categoria

O presidente do Sinmed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Marcelo Santana Silveira, afirma que a entidade vê o envolvimento com o tráfico de futuros profissionais da categoria “com extrema preocupação”.

“O papel social do médico tem que afastá-lo desse tipo de situação. O médico trabalha pela saúde e não pode estar relacionado com esse crime”, continua.

Silveira também ressalta que o Sinmed-MS acompanha a formação dos médicos, independente se feita no Brasil ou no exterior, e mostrou preocupação com a situação de vulnerabilidade de parte dos estudantes no Paraguai.

“Muitos já vão em situação financeira não privilegiada para estes locais. [Entrar para o tráfico] pode servir como forma de financiar o próprio curso”, finaliza.

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