Ex-companheira de Matheus alega que era dopada e estuprada: "filme de terror"

Foram 6 meses de relacionamento, dos quais 4, segundo ela, foram de agressões, abusos sexuais e psicológicos

Cb image default
Bruna diz que a vida mudou e que não consegue mais confiar nas pessoas. (Foto: Campo Grande News)

“Era uma vida de filme de terror”. Com essas palavras e voz embargada, Bruna do Nascimento, de 29 anos, relatou os quatro meses de agressões consecutivas que alega ter sofrido enquanto morava com o analista de sistemas Matheus Georges Zadra Tannous, 29 anos. Ele já tem condenação, de 2017, por espancar a ex-namorada Giovanna Nantes Tressi Oliveira, que teve os ossos do rosto fraturados.

Em entrevista ao Campo Grande News, Bruna diz que era dopada com calmante, desmaiando na sequência e, então, estuprada. Segundo ela, era mantida praticamente em cárcere e tinha permissão apenas que fosse de casa para o trabalho e até a igreja com ele. A jovem diz que os pastores estavam cientes da situação e, segundo a vítima, conversavam com Matheus. "Ele sempre dizia que nunca mais faria de novo e que iria mudar", contou.

“Os pastores da igreja conversavam com Matheus, para ele mudar de atitude. Só que nunca formalizaram uma queixa. E o Matheus sempre tentava manter uma relação de que estava tudo bem. A gente ia na igreja, tinha que estar tudo bem, entendeu? Pra sociedade. Fizemos uma tatuagem, então tudo parecia que estava bem.”

Segundo Bruna, cada um tatuou o nome do outro no braço. No dia da sessão, fizeram a foto e mostraram como ficou o trabalho. “No dia da tatuagem, eu estava com o braço machucado, mas mesmo assim, fizemos a foto”, relembra. 

A jovem diz que foram seis meses de relacionamento, sendo quatro deles de agressões, xingamentos e estupros. “No começo, a relação era super tranquila. Ele parecia um cara calmo. As agressões começaram em janeiro desse ano, mas nossa relação mesmo começou em novembro do ano passado”, conta. Bruna ainda relata que foi quando os dois passaram a morar juntos que ele se sentiu “livre” para mudar de comportamento, sentindo que poderia controlá-la.

“Levei minhas coisas pro apartamento dele em janeiro e então, ele tinha mais domínio sobre mim. A gente quando vive uma relação dessa, de abuso, nem percebe como as coisas vão acontecendo e, quando a gente vê, já foi”, lamentou. Conforme Bruna, a partir do momento que eles passaram a morar juntos, Matheus não a deixava falar com ninguém. "Era casa-trabalho-igreja”, relata.

A jovem contou sobre a primeira agressão, que ocorreu justamente em janeiro, no apartamento dele e dentro do banheiro. Ela conversava com uma amiga por mensagem de texto no celular. De acordo com Bruna, ele se irritou por “ciúmes” e deu um soco nela. A a partir daí, relata violência crescente. “Ele me socava esporadicamente, era contra parede, me dava gravatas e me estuprava. Ele também me dopava com (…) e então me estuprava enquanto eu estava desmaiada”. 

Para Bruna, o maior medo é que ele continue fazendo vítimas. “Ele se apresenta como uma pessoa boazinha, injustiçada”, citou, ao comentar que ela soube do caso da Giovanna pelo próprio Matheus, que contou a versão dele do caso. “Falou que a Giovanna o havia traído com um primo dela e, por isso, ele estourou, explodiu, porque estava bêbado, mas dizia que estava arrependido.” 

A jovem diz que, se não tivesse conseguido fugir de casa em maio, talvez estivesse hoje mais machucada e também desfigurada, como ocorreu com Giovanna. Bruna então começa a chorar e assume algo que, pra si, é muito difícil. “Todo momento eu penso isso: o Matheus nunca me amou. Dói demais. Pensar que eu só fui um objeto na mão dele, que ele usava e pronto. Nunca teve nenhum sentimento”, fala com a voz bastante embargada.

Banho monitorado - “Não foi só abuso. Foi um caso de violência doméstica sim. Nós vivíamos juntos, acordávamos todos os dias juntos”, sustenta Bruna. A vida, ela conta, foi em cárcere: sempre que Matheus saía de casa, levava a chave e, então, a deixava trancada em casa. Se ele estava em casa, ela ia ao banheiro ou tomar banho, e precisava ficar com a porta aberta.

Até minhas necessidades tinham que ser feitas com o monitoramento dele. Tinha que tomar banho e ficar com portas abertas. Era um filme de terror”, relata, enfatizando que diante de todo esse quadro, ela não tinha forças para, sozinha, sair daquela condição. “A gente nunca acredita que vai acontecer com a gente, mas acontece. Custa acreditar que é pra aquele pessoa que você se entregou e sonhava ter uma família junto, sabe?”

Transtorno bipolar – Bruna tem transtorno bipolar e ela conta que Matheus usava isso contra ela, para fragilizá-la. Assim que conseguiu se livrar do relacionamento, em maio deste ano, a jovem ficou internada em clínica psiquiátrica.

“Comecei a fazer terapia e sempre falo com o psicólogo sobre isso, as sequelas, o pânico que tudo isso desencadeou, os gatilhos. Qualquer grito mais alto é motivo para eu cair no choro”, lamentou, reforçando que “não tenho tido a vida que tinha antigamente. É um trauma tão grande que eu tenho receio de tudo. Mudou tudo para mim. Agora é difícil de confiar nas pessoas”.

Para fugir de casa, Bruna aproveitou um dia que Matheus saiu e esqueceu a chave. Ela percebeu, mas não teve forças nem coragem de abrir a porta e sair. “Eu não ia conseguir fazer isso sozinha, não tinha força para sair. Criei uma conta fake e pedi socorro pra uma amiga: 'pelo amor de Deus, pede pra alguém vir aqui me buscar'", e então, a mãe dela foi e a resgatou.

Bruna precisou criar uma conta falsa porque até as redes sociais dela eram monitoradas. Até então, a família dela não desconfiava do relacionamento abusivo. “Ele me batia onde ninguém via. Na frente dos familiares e amigos o Matheus se mostrava como um cara bom, normal. O contato que ele tinha com minha mãe, ele fingia que estava tudo bem. Ninguém tinha aquela desconfiança”.

Sobre o futuro, ela afirma que quer seguir a vida e se estabilizar emocionalmente. "Espero que esse caso tenha justiça e que ninguém mais sofra na mão dele. Nenhuma mulher merece passar o que eu passei”. Bruna fazia faculdade de Direito, mas interrompeu os estudos.

Matheus passou 113 dias preso, de 2 de agosto até 23 de novembro deste ano, pelo caso relacionado à Bruna, que foi registrado como estupro de vulnerável e ameaça. A reportagem procurou a defesa de Matheus e conforme o advogado Mikhail Olegário Monteiro afirma que a defesa alega a inocência do analista de sistemas e que vai trabalhar pela absolvição. "O esclarecimento de todos os fatos será feito na audiência de instrução e julgamento, que ainda não foi marcada", disse.

Matéria editada às 11h42 para acréscimo de informação da defesa de Matheus. 

Por Lucia Morel e Mylena Fraiha - Credito CampoGrandeNews

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.