Formação de tornados em Mato Grosso do Sul é inevitável, explica geógrafo

Fenômeno ocorre em condições climáticas favoráveis, como a ausência de vegetação nativa e o solo aquecido

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Tornado visto em área rural de Vicentina, centro-sul do Estado (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

A formação de tornados nos próximos anos ou décadas, em Mato Grosso do Sul, é inevitável, conforme explica o geógrafo especialista em mudanças climáticas. O fenômeno ocorre devido às condições climáticas favoráveis a que um tornado se forme, como a falta de vegetação nativa e o aquecimento do solo e do ar.

Em entrevista ao Campo Grande News, o geógrafo e pesquisador sobre mudanças climáticas e dinâmicas territoriais na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Charlei Aparecido da Silva, explicou a formação de tornados e os motivos pelos quais eles aparecerão em Mato Grosso do Sul.

Os tornados ocorrem quando há um encontro de ar quente e frio no continente. Para exemplificar, Charlei utilizou o caso do Paraná. Segundo ele, o tornado que atingiu o Estado foi resultado de um ciclone tropical formado no Atlântico. “Uma ponta dele ficou sobre o continente e trazia uma temperatura mais baixa, e ele encontrou naquela região do Paraná um ar muito quente”, detalhou.

Enquanto o tornado encontra a área de ar quente, ele segue “caminhando” pelo continente. Caso não haja esse encontro, ou não exista a predisposição entre massas de ar quente e frio, o fenômeno se dissipa.

Conforme o geógrafo, dificilmente um tornado chegará à região do Pantanal. Já o Centro-Sul do Estado, marcado pela ausência de vegetação nativa e pela grande presença de produção agrícola, favorece a formação desse tipo de fenômeno.

“A ausência da vegetação nativa favorece o aquecimento do solo e do ar. Associada à chegada de ar frio em alguns momentos no outono ou primavera, gera condições favoráveis à criação de tornado”, detalha Charlei. Ele explica, também, que essa área é mais propensa a outros eventos climáticos extremos, como escassez de chuva, ventos fortes ou cheias severas.

Esses eventos climáticos estão ligados a um quadro de alterações do clima em escala global, conforme o especialista. “O que temos observado no Brasil é que a formação de ciclones extratropicais está cada vez maior no Oceano Atlântico. Por conta do aquecimento do oceano, o fenômeno tem gerado a formação de tornados no interior dos continentes”, explicou.

Ele lembra que, em 1989, um tornado muito semelhante ao que atingiu o Paraná passou por Mato Grosso do Sul e atingiu Ivinhema, a cerca de 290 quilômetros de Campo Grande. Já em 2010, o fenômeno atingiu Dourados. “Ele se iniciou no Centro, pegou o fundo do Vale Laranja Doce, que é área mais fria, e foi parar lá no Parque das Nações”, lembrou.

Ainda segundo o geógrafo, o que está se discutindo atualmente é o aumento da probabilidade de um tornado acontecer. “Ele tem se tornado cada vez mais possível. Nós já vivenciamos eventos extremos ligados ao calor; no ano passado, vivenciamos eventos extremos ligados à chuva, como foi o caso do Rio Grande do Sul, e agora um evento extremo ligado ao vento”, explica.

Ele detalha que o tornado é um fenômeno natural, mas é considerado um evento extremo porque sua ocorrência traz danos ou prejuízos à sociedade. O pesquisador explica que, embora o clima seja volátil, há meios de prever a formação com antecedência. Com cinco horas de antecedência, é possível prever a ocorrência de um tornado com 90% de chance de acerto.

“A partir dessas cinco horas, vai diminuindo essa probabilidade. Com 24 horas, você chega a um grau de precisão de 50%, que é o que o CEMADEN (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) tem usado naquele alerta da Defesa Civil”, detalha Charlei.

O especialista reforça que a prevenção depende da seriedade com que os alertas são recebidos. “É lógico que a cidade do Paraná pensou que era uma piada. O poder público do Paraná achou que aquilo era uma piada e não levou a sério. Tem que se criar uma cultura de prevenção a eventos extremos”, finalizou o especialista.

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