Ivinhema - Vereadora agredida por irmão expõe caso e episódio vira campanha contra 'machismo', diz ela

Mary Cordeiro apanhou em frente à mãe; a parlamentar recebeu relatos de amigas que também foram agredidas, mas não denunciam por vergonha

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Vereadora Mary Cordeiro expôs caso de violência doméstica pela internet - Rede Social

A vereadora Mary Cordeiro, 34, do Podemos de Ivinhema, cidade distante uns 300 quilômetros de Campo Grande, agredida pelo irmão, na manhã de ontem, quinta-feira (24), relatou o escândalo familiar em suas redes sociais e se surpreendeu com o número de casos de violências domésticas narrados por conhecidas e amigas suas que as procuraram e narraram também que sofriam insultos violentos, mas, por vergonha, silenciavam diante dos incidentes.

Com isso, ela deu início a uma corrente “contra o machismo”, conforme disse.

Foram 15 histórias ouvidas pela parlamentar em menos de um dia depois que ela resolveu contar a sua aflição pelas redes.

No caso da vereadora Mary, ela foi agredida em casa e o único irmão, Cleber Cordeiro, 39, trabalhador rural, foi encarcerado em seguida.

Depois do episódio, ir à delegacia da Polícia Civil e ver o irmão ser preso, ao retornar à casa, a parlamentar decidiu revelar com textos e fotografias a angústia pelas redes sociais.

“As agressões psicológicas e morais são as piores, mas dificilmente serão únicas quando não colocamos um basta, um conselho de quem está passando por isso, não deixe que te faça sentir culpada, não se acovarde, não esconda porque você é a vítima, e quem faz sempre vai tentar passar, por certo, não existe justificativa para uma agressão de nenhum tipo, hoje sofri uma física, ‘amanhã’ sabe Deus o que mais pode acontecer e quem pode fazer, acreditem nas ameaças que fazem, porque o que a boca proferi e o que o coração tá cheio, e o que mais dói é ver de quem vem, dói, dói muito, mas todos os processos precisam ser vividos até o fim, seja qual for o desfecho, mas que seja lutando”, escreveu Mary Cordeiro, que completou:

“Agradeço de coração quem está comigo, é triste demais ver quem eu amo sofrendo junto, fiz o possível e impossível para evitar, mas infelizmente foi em vão, e agora vou até a solução. Ser forte e corajosa dói muito, mas às vezes é a única alternativa pra continuar”.

Ainda pelas redes, a vereadora citou o que aconteceu depois de revelar o episódio:

Desde que publiquei tenho recebido tantas mensagens de apoio principalmente de mulheres que estão passando ou já passaram pela mesma situação, mas que infelizmente se sentem acuadas e estão aguentando sozinha por tudo isso. Até com quem convivo e nunca imaginei que estaria vivendo algo semelhante, ou que viveu, mas por vergonha não buscam ajuda e nem contam pra ninguém”, afirmou.

Seguiu a parlamentar no relato:

“Então DECIDI uma coisa, tudo que for decidido ou acontecer de agora em diante eu vou expor, inclusive quase 100% perguntam qual o "motivo" dessa desavença que resultou nessas agressões, e se deu porque vieram tirar satisfações, totalmente alterado, após eu entrar em contato com o advogado na quarta- feira e pedir um acordo [com o ex-marido pela guarda do filho]”.

Continuou a vereadora:

“Que fique de exemplo para todas as mulheres que merecemos respeito, e não estamos sozinhas, temos pessoas que nos amam e nessas horas descobrimos quem são os verdadeiros, temos a justiça para nos dar amparo, e acima de tudo temos Deus que é o principal e advogado dos advogados e seja qual for o fim disso tudo, que eu deixe o exemplo que calada não devemos ficar, quem me conhece sabe que nesses nove meses fiz o possível e impossível para não ficar expondo nem criando confusões principalmente pra preservar quem eu amo, mas nada resolveu, pelo contrário só piorou, quanto mais calada mais criam outras verdades e nos deixam cada dia mais coagida, então vou tentar dessa maneira e também vou relatar toda a minha versão dos fatos”.

CONVERSA COM A VEREADORA

O Correio do Estado conversou, por telefone, com a vereadora no início da tarde desta sexta (25) e ela contou as circunstâncias da agressão e o ainda o motivo de expor até fotografias acerca da violência por suas redes sociais.

Mary disse que o mesmo irmão que o agrediu, “uns dias” atrás, a teria empurrado em cima da cama, de modo violento, depois de uma ríspida discussão.

A vereadora disse ter rompido há dez meses a relação com o ex-marido com quem viveu por 16 anos e tem um filho de 12 anos. Desde então, o ex-casal vem debatendo a divisão de bens e a guarda do filho. Até então, disse ela, “tudo corria bem”.

Ocorre que nos últimos dias, o ex-casal tem discutido sobre a guarda compartilhada do filho. Num diálogo com o advogado do ex-marido, via WhatsApp, a vereadora fez uma exigência e havia combinado que nesta sexta, até por volta do meio-dia, ela e o ex deveriam selar um acordo acerca de compromissos médicos com o filho, que é portador de TDAH, o conhecido transtorno de hiperatividade.

Veja o recado ao ex entregue por meio do advogado que o defende.

“... já perdeu [o filho] a psicóloga, a fonoaudióloga, até amanhã eu vou tomar as providências. Ele [ex] está achando que pode mais que a lei, até meio-dia vai estar tudo alinhado. Já falei pra ele e ele sabe tudo que estou falando”, escreveu a parlamentar.

A AGRESSÃO

Na manhã de ontem, a vereadora, que mora com a mãe, recebeu a visita do irmão que, transtornado, partiu para cima dela. A mãe tentou defendê-la, mas, ainda assim, a parlamentar sofreu golpes pelo corpo.

Após ser atacada, segundo Mary Cordeiro, o próprio agressor comunicou a vereadora de que iria até a delegacia para registrar um boletim de ocorrência em desfavor da parlamentar, alegando ele ser a vítima dos acontecimentos. Contudo, o trabalhador rural foi preso ainda na delegacia.

O motivo, segundo ela, é que o irmão discordou da atitude dela em relação a disputa pela guarda do filho com o ex. O irmão dela foi à casa e a agrediu porque ele defende o cunhado, não ela, segundo a parlamentar. Mary afirmou ainda que assumiu uma nova relação há dois meses, mas não sustentou se isso seria o motivo da discórdia do irmão ou do ex.

REPERCUSSÃO

A vereadora, depois de relatar o episódio da violência, disse ter sido procurada, por meio das redes sociais, por ao menos 15 mulheres, algumas delas “que nem imaginava” que também eram vítimas da violência doméstica.

Numa dessas conversas, afirmou a vereadora, ela convenceu uma das amigas a procurar ajuda psicológica para superar as consequências das agressões.

Até o fechamento deste material, a reportagem não tinha conseguido conversar com o advogado que defende o irmão da vereadora e que até à tarde seguia encarcerado. Quando houver o manifesto, o jornal publica sua versão.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Até o início deste mês, Mato Grosso do Sul havia registrado desde janeiro passado 11.244 ocorrências de violência doméstica no Estado, sendo 3.948 somente em Campo Grande. Isso representa um caso a cada meia hora. 

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