Fazendeiros e indígenas relatam terror em novo confronto por terra em Mato Grosso do Sul

Conflito ocorre na Fazenda Ipuitã, localizada na Terra Indígena Guyraroká, em Caarapó, ocupada novamente por indígenas Guarani e Kaiowá

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Área foi local de conflito novamente, nesta quarta (reprodução)

Tanto fazendeiros quanto indígenas relatam terror em novo confronto por terra em Mato Grosso do Sul, nesta quarta-feira (24). O conflito ocorre na Fazenda Ipuitã, localizada na Terra Indígena Guyraroká, em Caarapó, ocupada novamente por indígenas Guarani e Kaiowá.

Em um boletim de ocorrência, proprietário da fazenda relata violência e destruição de patrimônio praticados pelos indígenas. Também há relato de que um funcionário teria sido sequestrado e que até o momento não foi possível contato com ele.

O Cimi (Conselho Indigenista Missionário) confirmou a nova ocupação e diz que dois indígenas foram sequestrados e levados para a sede da fazenda, mas foram libertados após outros membros da comunidade se mobilizarem. Segundo os indígenas, pistoleiros também atearam fogo na mata próxima para incriminá-los. Após o conflito, os indígenas permaneceram na fazenda.

Proprietário da fazenda disse à polícia que está preocupado com a integridade física de um de seus funcionários que lhe é de extrema confiança. Conta que ele quem estava informando sobre toda situação dos acontecimentos. Ainda de acordo com o fazendeiro, o último áudio enviado pelo funcionário foi por volta do meio-dia e, ele aparentava estar muito assustado por conta do incêndio.

Ainda conforme o relato, o funcionário dizia que os indígenas estavam armados. “Eles estão entrando, preciso de ajuda”, teria dito. Desde então, segundo o proprietário rural, seu funcionário não fez mais contato. Acredita que ele foi sequestrado ou tenha sido gravemente ferido, pois não ficaria tantas horas sem contato. Todos demais funcionário disseram que não o viram durante à tarde, afirma.

O conflito nesta quarta é desdobramento iniciado no último domingo (21), quando os Guarani e Kaiowá, de acordo com o Cimi, ocuparam a fazenda para impedir a pulverização de agrotóxicos próximo à aldeia. Na segunda-feira (22), a Tropa de Choque da Polícia Militar despejou os indígenas da área. Ainda segundo o Cimi, a TI Guyraroká é oficialmente reconhecida pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) como de ocupação tradicional e aguarda a finalização de seu processo de homologação.

Já no relato do registro policial feito pelo proprietário, cerca de sessenta indígenas armados com facões e com algumas armas de fogo de cano longo passaram a intimidar e ameaçar os seguranças e demais funcionários. Consta no boletim de ocorrência que, como os indígenas estavam em vantagem, os seguranças e os demais evitaram o confronto e conseguiram se retirar do local. E, com a propriedade sobre o controle dos indígenas, os próprios indígenas passaram a atear fogo na propriedade, sempre visando atingir a sede, casa dos funcionários e demais benfeitorias.

Também relata que os indígenas eram todos adultos do sexo masculino, sendo que alguns encapuzados e outros com os rostos pintados, impedindo que fossem identificados. Segundo funcionários da fazenda, a tragédia maior só não aconteceu pelo fato dos trabalhadores terem conseguido fugir por uma rota alternativa que não estava bloqueada pelos indígenas.

De acordo com registro feito na polícia, enquanto fugiam, os funcionários ouviam diversos disparos de arma em suas direções. E, após tomarem a sede da fazenda, compareceu ao local um líder indígena, que passou a coordenar os demais, determinando os locais para a construção dos barracos.

Ainda com base nos relatos dos funcionários, os indígenas estavam muito agressivos, aparentavam estar todos alterados e preparados para o confronto. Já sobre os focos de incêndios, que de acordo com os funcionários, foram causados pelos indígenas, o proprietário diz que conseguiu dois caminhões pipas e maquinários para tentar diminuir os danos causados pelo fogo, mas que foram impedidos de entrarem na fazenda por uma guarnição da Força Nacional, que estava presente no local.

O proprietário também afirma tratar-se de uma ação coordenada por lideranças, pois tem conhecimento que simultaneamente, a nova invasão da sua área rural, indígenas também invadiram outra área rural em Dourados, e, nas mesmas circunstâncias. Usando armas e ateando fogo, intimidando e amedrontando todos. Também relata que durante a invasão, os indígenas gritavam as seguintes palavras de ameaça: “nós avisamos que vocês iam ver se continuassem aqui”.

Já segundo o Cimi, após a ocupação, a comunidade deu um prazo de 48 horas para que a fazenda se comprometesse a interromper a pulverização e o prazo se esgotou nesta quarta, sem resposta. Diante da falta de acordo, o grupo indígena então decidiu retornar à área.

Sobre os ocorridos, o MPI (Ministério dos Povos Indígenas) solicitou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública o reforço da Força Nacional de Segurança na região. A reportagem entrou em contato com a Sejusp (Secretaria de Segurança Pública de MS) e também com o Ministério da Justiça e Segurança Pública e aguarda retorno.

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