Chulé: por que seus pés fedem e o que fazer para se livrar do mau cheiro?

Popularmente conhecida como 'chulé', bromidrose plantar é a responsável pelo forte odor a partir do suor

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Imagem ilustrativa (Foto: Reprodução/Freepik)

Após um longo dia de trabalho, uma atividade física, ou uma saída casual em um dia quente, algumas pessoas podem se deparar com um incômodo ao voltar pra casa e tirar os calçados: um forte odor vindo de seus pés. Popularmente conhecida como ‘chulé’, a bromidrose plantar é a responsável por causar o mau cheiro a partir do suor.

Mas você já se perguntou por que ela ocorre? O Jornal Midiamax explica de onde vem o fedor e o que pode ser feito para evitá-lo no dia a dia.

Como ocorre e quais são as causas do chulé?

O chulé aparece quando bactérias presentes no corpo humano degradam o suor transpirado nos pés, segundo explica a médica dermatologista Heloide Marcelino. Ela pontua que o suor não possui cheiro e é uma condição normal do ser humano, mas que o processo de degradação produz o odor.

“Essas bactérias se alimentam do suor, então, elas se degradam e acabam ‘dando’ o cheiro, chamado de bromidrose. Tem pessoas que transpiram mais, pessoas que transpiram menos, mas normalmente isso é igual para todo mundo”, afirma a especialista.

Já as causas do mau odor estão associadas ao fato de os pés ficarem ‘presos’ em calçados fechados, que, por consequência, ficam ‘encharcados’ de suor. Assim, o local vira um bom ambiente para que as bactérias se desenvolvam e degradem o líquido transpirado, diz Heloide.

“Quanto mais úmido você deixar os seus pés, maior o risco da questão do cheiro, do odor característico, e a gente até sente quando o pé tá suado dentro do calçado.”

Existe predisposição ao chulé?

Apesar dos motivos para o fedor estarem sempre atrelados à transpiração em sapatos fechados, existem grupos de pessoas e situações que favorecem o problema.

A dermatologista explica que cerca de 90% dos pacientes com a condição são crianças e adolescentes, devido ao nível maior de sudorese produzida pelo sistema nervoso autônomo. “É aquele sistema nervoso que manda o coração bater, que manda o rim trabalhar, e a gente não tem domínio sobre ele, ele ainda se encontra de um modo imaturo [nessa idade]”, fala.

Desse modo, também há a influência dos hormônios, que variam de intensidade nessa faixa etária. “Muitas vezes, há situações que induzem a um maior nível de transpiração. Isso é fisiológico. Na idade da criança, do adolescente, do adulto jovem, isso é super normal.”

Além disso, o fenômeno também pode ocorrer com adultos, sobretudo em situações de estresse e ansiedade, que também alteram a dinâmica do sistema.

Como evitar o mau cheiro?

Então, como seria possível se prevenir do chulé? A especialista mostra que existem várias maneiras de evitar o odor, porém, todas ligadas a uma medida: deixar o pé seco.

Entre as recomendações para que isso aconteça, estão, principalmente, a utilização de meias de algodão e o possível uso de talco — se necessário —, além, é claro, de uma boa limpeza dos pés.

“A meia de algodão, ela tem uma propriedade muito interessante, porque ela vai absorver o suor enquanto o seu pé fica seco e o calçado também.” Se não for possível usar a vestimenta do tecido, o conselho é usar de outro tipo, sempre evitando o pé direto no calçado.

Ainda, Heloide reforça que uma boa limpeza deve ser feita durante o banho, mas com certos cuidados. “Apesar dos dermatologistas abominarem o uso de buchas, para lavar o pé é preciso. Mas, quando terminar o banho, é necessário lavar a bucha e deixá-la secar fora do box do banheiro”, diz.

Essa necessidade ocorre pela umidade e temperatura dos banheiros, que costumam ser propícias para o desenvolvimento de bactérias e até fungos. Também é fundamental secar muito bem os pés após o banho.

Outra alternativa é o uso dos talcos, que possuem como função deixar os pés secos. “As partículas do talco absorvem o suor e deixam o pé seco por mais tempo. Mesmo assim, pode não funcionar algumas vezes.” Caso nenhuma das opções resolvam o problema, há ainda outra possibilidade: mudar o ambiente das bactérias.

“Bactérias gostam de pH de pele ácido. Então, o que a gente faz é mudar o pH do local para o pH alcalino. É possível fazer isso com alguns desodorantes, que têm como base justamente isso. Quando você troca o pH do local, você mata as bactérias, que não conseguem se proliferar num pH alcalino”, explica a dermatologista.

Quando procurar um especialista?

Heloide também alerta para a necessidade de tratamento da condição em alguns casos. Na maioria deles, o problema é transitório, e melhora com o tempo. No entanto, o quadro pode comprometer o convívio social e até a saúde dos pacientes.

“A intervenção do médico costuma ocorrer quando isso acaba inviabilizando o próprio convívio social, como um mau cheiro muito forte, ou sudorese em outros locais, como mãos e axilas.” Assim, ela explica que fica a critério da pessoa para procurar atendimento e fazer uso de medicamentos ou aplicar toxina botulínica, que ‘desativa’ as glândulas e evita a transpiração no local.

Porém, também pode haver maiores complicações em caso do desenvolvimento de fungos ou de outras bactérias no local. “O excesso de suor nos pés ou em qualquer outra área torna a barreira cutânea vulnerável à entrada de fungos e bactérias. Aí a situação deixa de ser normal e corriqueira para uma situação de doença”, afirma.

A dermatologista ainda explica que os fungos encontram o ambiente ideal para proliferação e podem causar micoses com coceiras. Já as bactérias podem ser ainda mais perigosas, causando infecções, como as erisipelas. “Normalmente, não altera a questão do odor, mas sim a queixa clínica do paciente, que passa, de um excesso de suor, para uma coceira ou dor”, conclui.

*Com supervisão de Guilherme Cavalcante.

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