Máfia do Cigarro cooptou serviço reservado e manipulava escala da PM

Documentos mostram que tentáculos da organização criminosa atingiam até setor de inteligência da Polícia Militar na região de Dourados

A Máfia do Cigarro que atua na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai pagava propina para agentes do serviço reservado da Polícia Militar e interferia até na escala de trabalho da PM.

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Caminhão da quadrilha de Ângelo Ballerini, apreendido pela PRF com cigarro paraguaio. Imagem: (PRF/Divulgação)

Conhecido como “P2” por fazer parte da Segunda Seção da corporação, o grupo trabalha à paisana, muitas vezes com homens infiltrados, para investigar a atuação dos criminosos.

Mas integrantes do serviço reservado foram cooptados pela organização criminosa liderada por Ângelo Guimarães Bellerini, o “Alemão”, Valdenir Pereira dos Santos, o “Perna”, Carlos Alexandre Gouveia, o “Kandu”, e Fábio Costa, o “Pingo”, um ex-policial militar que virou criminoso.

Alemão, Perna e Kandu estão presos desde setembro do ano passado, quando foi deflagrada a Operação Nepsis, da Polícia Federal. Pingo está escondido no Paraguai.

A ação penal está em segredo de justiça, mas o “Campo Grande News” teve acesso a trechos da denúncia do MPF (Ministério Público Federal) e da decisão da Justiça Federal que decretou a prisão preventiva da quadrilha.

Nos documentos, a Polícia Militar é chamada de “pé preto” e há referências aos codinomes “P2 Peixe”, “Douradina” e “Escala Bug”. Policiais civis também são citados com o codinome “Civil”.

“P2” é a segunda seção do batalhão (serviço reservado), “peixe” é o codinome para Dourados, “Douradina” é uma referência aos policiais lotados na cidade de mesmo nome e “escala Bug” seria o codinome usado para tratar das propinas pagas para manipular a escala de serviço da Polícia Militar. Caarapó aparece como “Cipó”.

Policial pagador

As investigações mostram que o elo da quadrilha com policiais corruptos era o PM Joacir Ratier de Souza, também preso na operação de setembro e atualmente no Presídio Militar em Campo Grande.

Ligado a Fábio Costa, o Pingo, Ratier é tratado nas investigações como “policial garantidor pagador”, ou seja, tinha a missão de garantir a passagens dos carregamentos de cigarro contrabandeado e pagar a propina aos colegas.

Preso com dinheiro

No dia 16 de abril do ano passado, Joacir Ratier seguia pela BR-463 em um Ford Ka sedan, placa PVX-8673, quando foi preso por policiais federais no Posto Pacury, no município de Ponta Porã.

Viajando na companhia do primo, o servidor da Prefeitura de Dourados Samuel Miguel Raidan, Joacir Ratier transportava R$ 90 mil escondidos em um compartimento secreto no câmbio do carro. Samuel carregava mais R$ 4 mil na cintura.

O PM disse que o dinheiro era de um “patrão”, dono de uma transportadora, e que tinha sido contratado para levar a quantia até Dourados. Samuel contou ter sido convidado pelo primo para acompanhá-lo na missão e que o dinheiro foi entregue a Ratier em uma rua perto do Studio Center, em Pedro Juan Caballero.

Codinomes

De acordo com informações obtidas pelo “Campo Grande News”, o dinheiro encontrado com Joacir Ratier tinha sido entregue pelo “patrão” dele, Fábio Costa, o “Pingo”, para pagar propina a policiais de Dourados e de Douradina.

O objetivo era garantir passagem livre para caminhões carregados de cigarro paraguaio que sairiam da fronteira naqueles dias.

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